Crítica: Dredd

Dredd faz juz ao personagem das HQ's em história, complexidade de personagens, ambientação e violência, que justifica a censura de 18 anos.  Também é infinitamente superior à primeira tentativa de trazer o personagem para os cinemas em 1995 estrelado por Sylvester Stallone. Neste novo filme, dirigido por Peter Travis e depois a cargo de roteiristas, resolveram (acertadamente) focar em apenas uma história com início meio e fim, ao invés de mostrar vários momentos ou diversas ações do juíz. Outro acerto total foi investir nos gêneros policial e ação, não sobrando espaço para dramas ou romances.

Na cidade pós-apocalíptica (sempre esse estilo de cidade) Mega-City 1, onde impera a violência e corrupção, os juízes são policiais de rua que possuem autoridade de um juíz, júri, e executor. Isso significa que um juíz pode mandar prender, condenar qualquer infrator já divulgando sua sentença ou simplesmente matar logo o criminoso se seu delito for considerado grave, sem nenhuma necessidade de burocracia. Dredd é o mais experiente, respeitável e incorruptível de todos os juízes, e frequentemente faz uso de seu bordão "Eu sou a lei" em suas missões.

Apesar do filme de 95, Dredd é pouco conhecido no Brasil, mas na Inglaterra (país de origem do personagem) sua HQ é muito popular. Dredd foi criado em 1977 por John Wagner e Carlos Ezquerra para a revista 2000 A.D. As histórias de Dredd geralmente são curtas, pois a revista dedica cerca de 6 páginas semanalmente ao personagem, que divide a revista com outros heróis. Algumas HQ's compiladas com aventuras completas fazem muito sucesso mundo afora, principalmente quando a DC resolveu fazer um crossover e colocou Dredd frente ao Batman. Até o Predador já enfrentou Dredd nos quadrinhos.

 
Na história do filme, acompanhamos uma batida policial de Dredd e da agente Anderson, uma aspirante a juíza sob sua avaliação que possui um raro poder de ler as mentes das pessoas. A operação é realizada em Peech Trees, uma espécie de favelão vertical com mais de 200 andares. As favelas costumavam ser divididas entre diferentes gangues de tráfico de drogas, mas uma ex-prostituta chamada Madeline Madrigal, sob o singelo apelido de Ma-Ma, resolseu assumir o controle total dos negócios com a fabricação da droga Slo-Mo, que faz com que o cérebro processe a passagem do tempo a 1% de sua velocidade normal (e sugestiva desculpa para um excelente uso da técnica de slow motion). Após a prisão de um valioso informante, Dredd e Anderson são presos dentro do complexo por um forte sistema de segurança, e Ma-Ma ordena a todos os moradores que matem os juízes.

Daqui pra frente é acompanhar a história como se estivesse lendo uma HQ. Mas foi realizada muito bem a diferença entre mídias. O filme não ficou cartunesco como 300 ou Sin City (outros ótimos exemplos de adaptações), ou seja, o desejo do estúdio é apresentar uma batida policial como se fosse algo real. Ficou uma boa mistura de clima "noir" com policial, lembrando em alguns momentos Blade Runner e Robocop.

O elenco é composto por atores experientes, embora nenhum deles seja uma estrela de Hollywood ou protagonista de outro filme de sucesso. O papel de Dredd coube a Karl Urban, que já atuou na trilogia O Senhor dos Anéis e no último Star Trek. O ator conseguiu realizar uma excelente atuação, o que se torna ainda mais difícil pelo fato de que Dredd nunca tira o capacete (assim como nas HQs). A agente Cassandra Anderson é interpretada pela atriz Olívia Thirlby (Sexo sem compromisso, Juno). Já Ma-Ma é interpretada por Lena Headey, a mais conhecida do elenco, que foi a Rainha Gorgo em 300 e atualmente é Cersei Lannister no igualmente violento Game of Thrones.


Infelizmente não pude assistir o filme em 3D, mas li boas críticas quanto à sua utilização, assim como sobre todo o filme em si. Uma produção britânica modesta, com um herói violento, polêmico, complexo e relativamente pouco conhecido, em um ano recheado de super-produções. Isto está causando uma baixa procura do público em geral e pouca arrecadação de bilheteria, comprometendo o projeto de se tornar uma trilogia.  Espero que o filme tenha o sucesso que merece, pois mesmo com fatores que afastam parte do público como a alta censura e a extrema violência em alguns momentos, certamente é um dos melhores filmes do ano.

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