Cinebiografias de artistas, sobretudo músicos, já fazem parte há algum tempo do cinema brasileiro. Em parte pela natural curiosidade das pessoas em saberem mais da vida de celebridades da música e televisão, e também porque muitas vezes tais artistas conseguem não ter uma vida comum após obter o sucesso profissional. Mas é necessário um detalhe muito essencial: estas pessoas devem possuir uma história de vida que valha a pena ser contada. Podem ser polêmicos, como "Cazuza" ou uma bela trajetória como "2 filhos de Francisco". Mas é certo que para levar o público ao cinema é necessário um algo a mais.
Para estes casos em particular, se destaca o diretor Breno Silveira. Apaixonado por música brasileira e com faro para boas histórias, o diretor já foi o responsável pelo grande sucesso "2 filhos de Francisco", sobre Zezé di Camargo e Luciano, e mais recentemente dirigiu "À beira do caminho", a história de um caminhoneiro baseado nas músicas de Roberto Carlos. Seu mais novo filme volta a explorar bem essa veia, trazendo a história de dois importantes personagens que fazem parte da história da música brasileira: Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, no ano em que Gonzagão faria 100 anos.
"Gonzaga - de pai para filho" foi idealizado a partir de uma entrevista gravada em várias fitas K7 pelo próprio Gonzaguinha com seu pai, onde os dois fazem relatos sinceros sobre o conturbado relacionamento entre pai e filho e sobre a trajetória de vida de Gonzagão: sua infância pobre em Exu - Pernambuco, o sucesso no Brasil como rei do Baião e os difíceis últimos anos de carreira. Em paralelo, o filme também explora a biografia de Gozaguinha, incluindo a perda da mãe Odaléia aos 2 anos de idade, a ausência constante do pai e a criação por uma família de amigos de seu pai, a rejeição da madastra Helena, os problemas de sua juventude e a sua paixão pela música se iniciando com composição de músicas de protesto contra a ditadura dos anos 70. Os dois só se entenderiam definitivamente em 1980, quando fizeram turnê juntos organizada por Gonzaguinha, nove anos antes da morte de seu pai.
O elenco conta com a participação obrigatória do elenco global por se tratar de mais uma produção da Globo Filmes (nomes como Silvia Buarque, Cecília Dassi e Nanda Costa), mas os personagens principais são atores praticamente desconhecidos do grande público ou mesmo estreantes. O maior destaque sem dúvida alguma é o gaúcho Júlio Andrade no papel de Gonzaguinha dos anos 80. Para o papel de Gonzaga no auge do sucesso, foi escolhido o músico Chambinho do Acordeon, onde contou mais o talento com o instrumento musical do que sua interpretação, mas ele não faz feio. Ao todo, 6 atores se revezam nos papéis principais: Adélio Lima, Chambinho do Acordeon e Land Vieira para o pai e Júlio Andrade, Giancarlo Di Tommaso e Alison
Santos para o filho.
De restante, o filme apresenta um bom roteiro. Não foge da zona de conforto, apostando na fórmula de sucesso dos dramas familiares intercalando com a ótima trilha sonora fornecida pelos protagonistas. O filme mostra fotos e imagens reais dos músicos intercalados com cenas dos atores. Não traz maiores inovações nem surpresas para quem já conhece a história dos artistas, mas compensa com uma boa história, envolvente e cativante. Alguns momentos importantes ficaram de fora ou foram pouco explorados, como a parceria de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira ou a vida de Gozaguinha além da criança e jovem rejeitado, mas são compreensíveis ao se lembrar do título do filme. Afinal de contas, é um filme sobre a relação entre pai e filho, e não um documentário.
É inegável a importância de filmes como este, que valorizam a cultura do Nordeste e do Brasil. O país merece conhecer melhor a história do homem que não apenas criou o hino do Nordeste Asa Branca, mas toda a riqueza cultural do xote, xaxado e baião. E seu filho, apesar de ter nos deixado muito jovem, contribuiu de forma significativa para a MPB, compondo e cantando músicas que ficaram eternizadas devido a sua altíssima qualidade. Maior prova disso é o final da exibição, onde as pessoas deixar a sessão com ar de tristeza ou melancolia ao acompanhar os últimos momentos de pai e filho, mas vi o público sair do cinema cantando em coro "O que é o que é?" Essa é a maior homenagem e reconhecimento a um artista.
Ansiosíssima para assisti-lo!!!! Só pelos protagonistas, sinto que já gostei hehehe. Ainda que não seja a produção do ano, efeitos especiais do século e enredo de tirar o fôlego, é quase que uma obrigação ir ao cinema prestigiar esse tipo de filme que traz consigo a cultura do país que vivemos e que, por muitas vezes, é menosprezada e mal (re)conhecida.
ResponderExcluirNão assisti, mas já recomendo! Com certeza vale a pena.
Pena que não pudemos ir no domingo. Já estava com vontade de assistir só pelo fato de ser um orgulho para o nordestino uma homenagem como este filme ao Rei do Baião, agora depois de ler a crítica fiquei mais curiosa ainda, pois não conheço a história de vida dos dois.
ResponderExcluirPaulyara