Crítica: Corpo e Alma

Indicado na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, o húngaro “CORPO E ALMA”, de Ildiko Enyedi traz uma história de amor que, literalmente, começou em um sonho. Duas pessoas, Maria (Alexandra Borbély) e Endre (Géza Morcsányi), descobrem que se encontram em sonhos exatamente iguais todas as noites, traçando um paralelo entre o mundo real e a fantasia.


Corpo e Alma é um filme que se alterna entre a leveza e a complexidade. Os fatos e algumas cenas aparentemente soltas (como a dos cervos na floresta) vão se encaixando ao longo de seu desenvolvimento, o que também acontece com os personagens à medida em que eles próprios se conhecem. E as mensagens, ora sutis ora explícitas, servem para diversos momentos de reflexão no filme e pós filme. Um prato cheio para os que apreciam longas que abordam a psiquê humana.

Mas, calma! Você não precisa ser psicólogo ou da área de humanas para acompanhar o filme. Eu mesmo passo um pouco longe dessas características, embora adore o tema. Por exemplo, não consigo dizer qual o diagnóstico do "transtorno" da protagonista. É algo parecido com um tipo de autismo, em que ela é completamente focada e metódica no trabalho, mas por outro lado é introspectiva e não consegue estabelecer o menor contato (inclusive físico) com as pessoas. Mas saber ou não estes detalhes não vai alterar a forma como acompanhamos sua trajetória. Já o protagonista possui uma deficiência física - um braço paralisado. E com isso vamos conhecendo seus problemas e suas limitações (físicas ou psicológicas), acompanhar com interesse, compaixão e, até mesmo em alguns momentos, sentir as suas dores.




Dentre as reflexões, ficam alguns questionamentos. Como nós julgamos as pessoas apenas pelo seu jeito de andar, de falar, de trabalhar, sem saber realmente quais são seus problemas... Tendo suas deficiências ou não, veladas ou não, é característica do ser humano julgar o outro. Se julgamos as pessoas que conhecemos intimamente, imagine as que não conhecemos a fundo. E olha que nesse filme o "bullying" nem é o foco, mas pra quem já viu "13 razões", vai ter alguns motivos para ligar estas duas obras. Como citado anteriormente, não é um filme fácil de ser acompanhado, embora seja altamente recomendável que seja visto. Por motivos cinéfilos e sociais.

Um filme que se sustenta totalmente nos atores principais. Nos olhares, nos gestos, nos diálogos. Incrível como uma interpretação quase robotizada de Alexandra Borbély (Mária) pode transmitir tanta coisa! Não é a toa que este filme foi o indicado da Hungria a melhor filme estrangeiro do Oscar 2018, e selecionado entre os finalistas. Não chega a ser uma fábula como "A forma da água", mas apresenta que o amor pode surgir das mais variadas formas, até dos sonhos.

Última dica. Boa parte do filme se passa em um abatedouro. Aconselho aos que tem estômago fraco não assistir comendo.




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