Crítica: À Beira do Caminho

O cinema nacional este ano teve condições de produzir filmes muito populares (caso de "E aí...comeu?"), porcarias completas ("Agamenon"), filmes polêmicos, embora belos e bem produzidos tecnicamente ("Paraísos artificiais") e emotivos ("Histórias que só existem para serem lembradas"). Infelizmente fui privado de assistir "Eu receberia..." para poder classificá-lo em um dos quesitos acima ou acrescentar mais algum em particular. Mas uma coisa é certa: faz tempo que eu não via um filme nacional com uma história TÃO bonita quanto "À beira do caminho".

Que bom que tive a oportunidade de assisti-lo. Que bom que os cinemas do Brasil estão exibindo este filme em suas salas. Ouvi muita gente na internet fazendo propaganda errada, dizendo que este era um simples filme de caminhoneiro feito como desculpa para colocar as músicas de Roberto Carlos na trilha sonora. Na verdade, eu diria que é um filme simples que conta a história de um caminhoneiro que se assemelha com as letras de algumas canções de Roberto Carlos. 

E aí eu te pergunto: que nunca passou por alguma situação que lembrasse alguma música de Roberto Carlos? Ele não é chamado de Rei a toa, fazendo com que ainda hoje milhares de pessoas parem o que estiverem fazendo pra ver o especial dele na TV, mesmo passando todo ano. Em tempos de sertanejos universitários, funks e pagodes "Neymarketeiros" (todos podem ter seus méritos, mas aqui não é o caso), é muito boa ouvir uma trilha sonora com essa qualidade narrando o filme. Além do mais, eu não conheço ninguém, de qualquer idade, que não saiba cantar pelo menos um trecho de alguma música do Rei.

Dira perfeita como sempre
A história pode ser simples, sim. Mas é muito bem contada, bem amarrada e carregada de emoção e sentimento nos momentos certos. E a história também te faz refletir sobre algumas questões. Vida dura essa de caminhoneiro! E com certeza é disso pra muito pior. Nesses tempos de greve em tudo que é categoria existente, penso no impacto que teria uma greve dos caminhoneiros com longa duração. Aí sim o Brasil ia parar de vez. Outra sacada muito interessante foi, além das letras das músicas nos momentos certos do filme, em alguns momentos-chave aparecem algumas famosas frases de caminhão. Frases de pára-choque já conhecidas por muita gente, mas que fazem todo o sentido nestes momentos. Frases como: "Viver é como desenhar sem borracha", "Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier", "Não há mal que perdure, nem há dor que não se cure" ou "Pra quem não tem nada, a metade é o dobro".

Esse carinha ROUBA o filme
O elenco é outro acerto. O protagonista é o ator João Miguel, que trabalhou em filmes premiados como Estômago, Carandiru e Cinema, Aspirinas e Urubus. No papel de João, conseguiu transmitir os sentimentos de solidão, culpa, compaixão e outros mais que vamos descobrindo de acordo com pedaços de sua história que vão sendo revelados aos poucos. Mas se ele não estivesse acompanhado do ator-mirim Vinícius Nascimento no papel de Duda, provavelmente metade da carga dramática do filme não teria funcionado como deveria. Completam o elenco os consagrados Ângelo Antônio e Dira Paes, que já trabalharam com o diretor Breno Silveira em seu outro sucesso de mesmo estilo Dois filhos de Francisco.

Talvez o filme nem "funcione" tão bem para o algumas pessoas, que podem achar o filme simples demais, melodramático ou algo do tipo. O filme pode ter clichés, ser uma história batida, sem inovação ou o que for. Quando uma história é bem contada e te emociona, pra mim é o que basta. E foi o que aconteceu pro filme entrar na minha lista de favoritos.

Comentários