Crítica: Detona Ralph

'Detona Ralph' (Wreck-It Ralph) conta a história de um vilão de um jogo de fliperama determinado a provar que pode ser um herói. Ralph (voz no original de John C. Reilly e na versão dublada por Tiago Abravanel) quer muito ser querido e admirado quanto seu adversário de jogo Conserta Félix Jr. (Fix-It Felix Jr., vozes de Jack McBrayer / Rafael Cortez). O problema é que ninguém gosta de Bandidos. Cansado de ser excluído socialmente por 30 anos, Ralph vê sua chance de mudar de vida quando decide invadir um moderno jogo de tiro, protagonizado pela Sargento Calhoun (Jane Lynch), com um plano simples - ganhar uma medalha e ser reconhecido pelos seus companheiros de jogo. Mas Ralph se atrapalha e liberta um inimigo que põe em risco todos os jogos do fliperama. Agora sua esperança é a garotinha Vanellope von Schweetz (Sarah Silverman / Marimoon ), um “bug” de um jogo de corrida de carros que vai ajudá-lo a compreender qual seu valor na sociedade.

A Disney mostra que não depende da Pixar (hoje parte integrante de seu império) para continuar fazendo seus longas de animação gerados por computação gráfica com qualidade e também que não perdeu a mão para contar histórias com bom conteúdo e brilho técnico. Prova disso é a indicação de Detona Ralph ao Oscar de melhor filme de animação em 2013. Algumas de suas características marcantes dos filmes da produtora continuam presentes nesta animação, como as famosas lições de moral e o jeito emotivo e emocional de contar uma história.

Detona Ralph não é um filme baseado em um jogo, nem um jogo que virou filme. Também não é um filme que parece um jogo e muito menos uma homenagem aos jogos de video-games. É um boa história de aventura, com um roteiro bem original, utilizando consoles e jogos de video-game como personagens e referências. E isso ficou bem legal! Apesar de ser um filme infantil e que obviamente chama a atenção de nerds e amantes de video-game, Detona Ralph consegue ser divertido para todas as idades e faixas de público, independente da quantidade de bits.

Sim, o filme tem um roteiro original. Apesar dessa história de vilão querer ser herói ter sido utilizada recentemente em outros filmes de animação como Megamente e Meu malvado favorito, a história é bem contada, os personagens principais são muito carismáticos e ocorre uma boa mistura entre mundos de jogos antigos da geração 8-bits, como os saudosos master system e o nintendinho, e mundos de jogos ultra-modernos, em altíssima definição de vídeo e recursos de CGI. Para agradar a ala feminina, um dos mundos é extremamente... bom... doce! Também usa alguns conceitos que deram muito certo em filmes já clássicos de animação como Toy Story (o fato dos jogos terem uma vida após o jogo terminar) e Monstros S. A. (com os bastidores e interação entre personagens de jogos diferentes). Ou seja, não é uma colcha de retalhos de outras animações. É uma boa sacada de como aproveitar as melhores ideias contando uma história completa que não foi utilizada em nenhum longa anterior.

MAS, assim como em um jogo real, o filme também tem suas fases chatas, principalmente na metade do filme. Fica bem monótono em alguns momentos, na verdade. Para quem não curte jogos ou para crianças muito pequenas, pode ficar muito chato, a ponto de algumas pessoas perderem o interesse e abandonarem a sala. Mas não o desligue, porque nós sempre buscamos terminar uma partida! Para nós gamers, o recurso utilizado para passar o tempo enquanto a parte chata não evolui para algo melhor é observar as referências a jogos e consoles antigos e reconhecer os seus personagens. Alguns são extremamente fáceis de identificar como Sonic, Pac-Man e os lutadores de Street Fighter e Mortal Kombat, já outros nem tanto assim (acho que vi a Felícia de Darkstalkers...). Mas fica a ressalva (não considerem spoiler, mas um aviso): todos os personagens de games são secundários e coadjuvantes, utilizados com um sensacional golpe de marketing para atrair gamers e nerds para os cinemas (e funcionou direitinho) e não possuem influência direta na história principal.

Esse recurso de utilização dos personagens é bem explorado no início do filme e vai diminuindo conforme a história se desenrola até que pouco após a metade do filme as aparições praticamente se encerram, o filme toma foco mais infantil e exclusivo dos personagens principais da história. Fica aquela vontade de querer ver mais personagens de games, mais homenagens e mais humor, mas a história central tinha que ter sua importância. Ficamos com aquele gostinho de quero-mais, principalmente pra ver mais personagens, mais homenagens, mais humor. Mas para não cair no exagero nem ser apenas um sitcom de heróis de video-games, penso que a decisão foi corretamente tomada. E esse deverá ser apenas o primeiro volume de mais uma franquia de sucessos. Não duvido que possamos ver em breve rostos conhecidos de jogos em curta-metragens que costumam iniciar os filmes de animação. Aliás, pausa para mais um elogio. O curta de abertura Avião de papel é simplesmente fantástico!

O final do longa não é tão meloso quanto nos famosos filmes de princesa, mas continua apostando na emoção. Pra quem curte o estilo Disney vai gostar bastante do final, assim como ficamos felizes em terminar um jogo. A diversão continua até nos créditos, portanto fique mais um pouquinho e curta os personagens em 8 bits. Esperamos que a continuação já anunciada, além de mais homenagens e referências a personagens (Super Mario já foi confirmado), traga mais uma boa história, e não apenas mais um típico caça-níquels. Afinal, gostamos de jogos e filmes de qualidade!

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