Crítica: O Impossível

"O Impossível" aborda a história de uma família em meio ao tsunami que assolou o litoral da Tailândia, em 2004. O casal espanhol Maria Belón (Naomi Watts), Henry Alvarez (Ewan McGregor) e seus três filhos iniciam suas férias em busca de alguns dias de sossego no paraíso tropical, porém, na manhã de 26 de dezembro, enquanto a família relaxava na piscina, depois das festividades de Natal, uma enorme parede de água vem ao seu encontro.

O Impossível não se trata de apenas um filme de ficção baseado em uma história real. É difícil classificá-lo em algum gênero. Até hoje, todos os chamados "filmes-catástrofes" são baseados em histórias fictícias, frutos da imaginação e suposição de roteiristas e diretores. E nós assistimos a esses filmes nos divertindo, porque temos certeza que tudo aquilo que estamos vendo é ficção. Esse aqui é diferente. Foi baseado em uma tragédia real. E não apenas por esse fato, mas por se tratar de uma das maiores tragédias recentes da história mundial. 

E além deste episódio ainda estar muito vivo em nossas memórias, acrescente o fato de que o tsunami asiático ocorreu logo após o Natal, bem próximo à data em que o filme foi lançado nos cinemas aqui no Brasil. Então me recuso a chamar este longa de filme-catástrofe, porque ele não foi feito para entretenimento. É um filme sobre uma catástrofe, que existe quase como um documentário, para nos lembrar dessa tragédia, mas também para nos alertar de que nós acompanhamos e nos comovemos com estas tragédias, mas logo em seguida continuamos nossos caminhos. Será que estamos preparados para um possível novo desastre, já que ninguém pode controlar a natureza? Ou o nosso otimismo natural nos impede de pensar dessa forma? Será que teríamos as mesmas atitudes e escolhas que os personagens do filme fizeram em algum episódio parecido? Ainda existe espaço para acreditarmos no impossível?

A história de tsunamis no cinema nem é novidade. Clint Eastwood dirigiu um filme chamado Além da Vida, com Matt Damon. Um daqueles filmes com várias histórias paralelas, e em uma delas abordava o tsunami. Mas além desse filme ser um pouco monótono, o foco principal não era a tragédia. E mesmo assim, está longe do realismo apresentado em O Impossível

O diretor Juan Antonio Bayona nos entrega um filme impressionante, onde acompanhamos e sentimos a dor, a angústia e o drama de cada um dos personagens (talvez até um pouco a mais carregado no sentimentalismo do que o necessário). Mas também não vemos só tragédia. O filme também mostra valores que existem no ser humano como solidariedade, compaixão, esperança, fé, amor, caridade e o valor da família. Outro acerto do diretor foi não envolver nenhuma crença religiosa no filme, explorando apenas os fatos como provavelmente ocorreram. Em minha opinião pessoal, se realmente foi dessa forma a história real, só posso chamar o que ocorreu de milagre. Mas o diretor deixa cada um que tenha suas próprias opiniões e convicções.

Talvez você ache o filme sentimental ou dramático demais, mas - repetindo - foi baseado em uma história real, e o depoimento da família é o que mais se tem de concreto para a história. Então ou acreditamos que realmente o que nos foi mostrado em tela realmente aconteceu ou então aceitamos que no cinema muitas vezes uma certa dose de exagero é utilizada para "dar o molho" nos filmes e deixá-los com uma carga dramática um pouco maior. Afinal, o cinema vive de emoção. E aqui temos de sobra...



O elenco está simplesmente fantástico. Os cinco protagonistas conseguem nos passar todo o sofrimento vivido pela família retratada no longa de uma forma incrivelmente sincera e real. Naomi Watts (brilhante) e Ewan McGregor, assim como o trio infantil formado pelos filhos Tom Holland (Lucas, o mais velho), Samuel Joslin (Thomas) e Oaklee Pendergast (Simon) merecem todos os elogios possíveis. Tecnicamente, o filme é muito bem feito. As imagens chocantes que infelizmente acompanhamos ao vivo em 2004 se repetem agora em formato digital, se não com o mesmo impacto, com uma impressionante fidelidade com os fatos reais. O trabalho de computação gráfica ficou excelente e vemos perfeitamente as dimensões do estrago tanto em planos abertos como em tomadas claustrofóbicas, como na cena de Naomi Watts sendo levada pela onda gigante.

Desculpem o trocadilho, mas é impossível sair do cinema inerte ou insensível a tudo o que foi visto no longa. O fato de que, ao término da sessão, todo o público saiu da sala absolutamente calado traduziu o tom triste, tenso, forte, dramático e melancólico do filme. Esse definitivamente não é um filme para ser somente assistido, mas para ser lembrado. Vale ser visto pelo impacto visual, pela atuação do elenco, pelo contexto histórico da tragédia e pela mensagem de esperança.

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