Crítica: Cinderela

Cinderela (Cinderella - 2015). 112 min. Dirigido por Kenneth Branagh (‘Thor’), o longa acompanha a vida da jovem Ella (Lily James), cujo pai comerciante casa novamente depois que fica viúvo de sua mãe. Ella recebe bem a madrasta (Cate Blanchett) e suas filhas na casa da família. Mas quando seu pai morre inesperadamente, ela se torna criada de sua nova família. Tudo muda quando ela conhece um belo estranho na floresta, o Príncipe Kit (Richard Madden).

Cinderela é a adaptação mais fiel à sua animação original de 1950. Com algumas modificações e uma história um pouco mais esticada para se adequar a confortáveis 112 minutos de duração, é um filme para a família toda, que promete agradar não apenas ao público feminino infanto-juvenil, mas a todos que curtem filmes com temática simples, mostrando que é possível fazer uma adaptação de contos de fadas infantis com atores reais sem tornar o filme "adulto".


A primeira modificação do desenho para a "realidade" é que o filme não é um musical, característica típica dos contos de fadas da Disney. E, apesar de gostar de musicais, foi uma excelente decisão, pois deixou o ritmo do filme ágil e dinâmico. Fugindo do tom usado em recentes adaptações de princesas como "Branca de Neve e o Caçador" e "A Garota da Capa Vermelha", o clima de Cinderela é bem mais leve. Não temos cenas de violência, batalhas, ambientes sombrios e conflitos psicológicos. O que não significa que seja bobinho e inocente.

O filme é encantador! Ótimo elenco, efeitos visuais e computação gráfica com o selo de qualidade da Disney, figurino espetacular, boa trilha sonora, roteiro com situações e conversas que deixam a trama sem furos, como por exemplo, a origem dos apelidos "Gata Borralheira" e "Cinderela". Apesar da dublagem brasileira não deixar 100% clara, dá pra se ter uma noção, mas se você ainda ficou na dúvida, "Cinzas" em inglês se pronuncia "Cinder". Ou em francês, "Cendre", já que a personagem foi criada pelo autor francês Charles Perrault em 1634.


Lily James foi a escolha perfeita para a princesa. Carismática, com um sorriso encantador, dona de uma beleza simples, sem ar de mulher fatal. Consegue transmitir pureza sem parecer uma menina boba. Cate Blanchett empresta todo o seu talento para deixar fluir toda a amargura, inveja e rancor de sua personagem, ficando mais claro as motivações e o porquê de ser uma "madrasta má". As irmãs Anastasia e Drizella são interpretadas por Holliday Grainger e Sophie McShera, fúteis, esnobes e egoístas na medida certa para a trama. E o príncipe Richard Madden (de "Game of Thrones") também não faz só o papel de galã. A química entre Richard e Lily é excelente e seus encontros são recheados de humor. Mais um ponto forte para o filme em fugir do excesso de romantismo. Outra participação recheada de humor e que, apesar de pequena, tem uma importância fundamental, é a da fada madrinha de Helena Bonham Carter. A famosa cena da transformação dos animais, abóboras e das roupas de Ella na princesa é seguramente um dos melhores momentos do filme.

Nos últimos anos vimos várias tentativas do estúdio em mostrar que no mundo de hoje não devem existir mais garotas ingênuas, inocentes e sonhadoras que esperam por um príncipe encantado montado em um cavalo branco. Para isso, pouco a pouco foi modificando o perfil de suas protagonistas para jovens fortes, guerreiras e maduras ao estilo Katniss de "Jogos Vorazes". Mas, apesar de terem sido bons filmes e com boa média de público, não tiveram o retorno 100% esperado. Ao que parece, alguém lá de dentro resolveu apostar que ainda é possível levar histórias infantis ao cinema do jeito que as pessoas estavam acostumadas a ver. 

Sim, o mundo ainda é cruel e a vida vai ensinar mais cedo ou mais tarde que o mundo de hoje não é um conto de fadas. Mas, se já temos consciência disso, por que não reservar um tempinho para sair da realidade, nos envolver com o mundo do cinema e sonhar com finais felizes? Não esquecendo da obrigatória lição de moral em filmes da Disney, na vida iremos passar por diversas situações difíceis, mas devemos sempre encará-las e superá-las com coragem e gentileza. E com um pouquinho de magia...

                            


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