Crítica: Pixels

Em parceria com setdecinema.com.br

pixels-regposter-brazilQuando seres intergalácticos interpretam um arquivo em vídeo com imagens de jogos de arcade clássicos como uma declaração de guerra contra eles, eles atacam a Terra usando esses jogos como modelos para suas várias ofensivas. O presidente Will Cooper (Kevin James) busca ajuda de seu melhor amigo de infância Sam Brenner (Adam Sandler), um campeão de competições de vídeo-games nos anos 80 - e agora um instalador de home theater - para liderar uma equipe de jogadores veteranos (Peter Dinklage e Josh Gad), derrotar os alienígenas e salvar o planeta. Eles ainda vão contar com a ajuda da tenente-coronel Violet Von Patten (Michelle Monaghan), uma especialista em tecnologia que irá fornecer aos arcaders as armas exclusivas para lutar contra os aliens.

E continuamos na onda retrô anos 80/90. Já citei mais de uma vez a quantidade de franquias da época que retornaram ao cinema em 2015 (e isso porque ainda estamos no meio do ano). Agora é a vez dos jogos antigos, aproveitando a nostalgia dos "retrogamers", ou seja, a geração inta/enta que estão voltando a jogar games antigos, seja por meio de softwares de computador ou adquirindo consoles antigos. Este novo filme é focado para este grupo bem específico. Portanto, por fazer parte desta geração e público-alvo, provavelmente minha crítica será bem parcial.

Começando pelo fator "roteiro" (com um pouco de spoilers mas nada muito grave por ser quase no início da história, ok?) O presidente dos EUA é um bobão atrapalhado, detestado pela população, que fecha bares e restaurantes para bater papo tranquilamente com seus amigos nerds ou sua esposa. Seu melhor amigo Sam (Adan Sandler) é um cara comum, que instala equipamentos de áudio e vídeo, que (1) entra no closet de uma de suas clientes que nunca tinha visto antes, que por acaso é Secretária de Segurança dos EUA, para consolá-la enquanto ela chora e bebe vinho em uma mamadeira por ter sido abandonada pelo marido e (2) consegue entrar no que acredito ser o Pentágono de bermuda laranja e interrompe uma reunião entre o presidente, ministros, secretários e militares para falar sobre o jogo GALAGA. Isso faz sentido pra você? Alienígenas que recebem uma mensagem da Terra, interpretam de maneira errada e enviam suas tropas para invadir nosso planeta no formato de jogos de vídeo-game de 1982 também não fazem muito sentido pra mim nem segue bem a realidade... Então, o filme deve funcionar melhor para aqueles que conseguem assistir ao filme como puro entretenimento sem prestar atenção em como ou o porquê daquilo estar acontecendo.

Fator nostalgia: aqui é o carro-chefe do filme. Não são apenas jogos de fliperama antigos que são explorados, mas também atores, músicos, seriados, video-clips, e outros fatores culturais são alvo de piadas e referências. Para os oitentistas (tipo, eu), é muito legal. Para os que não viveram naquele tempo, irão ficar indiferentes, sem entender a referência ou do que/quem se trata, ficar se perguntando quem é esse ou aquele e talvez até acabar meio chateados por perder o rumo da piada. Algumas das referências são óbvias, como a Madonna. Outras, como os atores do seriado Ilha da Fantasia, já são bem mais específicas para quem tem boa memória. As crianças pequenas vão ficar meio perdidas na história.

Vamos aos jogos. Acredito que, mesmo que nunca tenha jogado, a maioria da população com acesso à mídia já pelo menos ouviu falar do Pac-Man (que na época, em que tudo tinha que ser traduzido para o português, ganhou o lindo nome de "come-come"). Não é a toa que o personagem está nos trailers e cartazes de divulgação. Mas ao todo são 21 jogos que receberam homenagens dos roteiristas e produtores. Todos os games são da época dos fliperamas (Arcade) de 1982, alguns ganharam versões de 4 ou 8 bits para Atari, Nintendo e Master System, o que pode facilitar a lembrança de mais pessoas. Alguns aparecem bem na tela, outros ganharam só uma pontinha como figurantes ou ainda citações. Dentre eles, podemos citar, além de Pac-Man: Donkey Kong (o primeiro jogo do Mario, conhecido então apenas por "jumpman)", Centopéia (Centipede), Galaga, Asteroids, Space Invaders, Paperboy, Smurfs, Frogger, Joust, Duck Hunt, Tetris, Arknoid, Defender, Burger Time, Q'Bert, dentre outros. A heroína Lady Lisa (Ashley Benson) do jogo Dojo Quest não existe e foi criada para o filme (mas já fizeram o jogo para celulares). Um detalhe, os créditos pós-filme recontam praticamente o filme todo na forma de pixels, com gráficos de 4 bits da época do Arcade e Atari.



Elenco: pelo histórico recente, estava morrendo de medo do Adam Sandler acabar com o filme, já que minha expectativa estava bem alta. Eu até gosto de alguns filmes dele, mas os últimos (Cada um tem a gêmea que merece e Trocando os pés) foram bons exemplos de filmes muito ruins. Aqui ele continua sendo o mesmo tipo de personagem, mas até que não compromete muito o filme. Até ri com algumas piadas. Em alguns momentos é o Adam Sandler de sempre, estragando potenciais boas cenas e com algumas piadas péssimas.

Aliás, todo o elenco pode ser considerado elenco de apoio. Ninguém rouba o filme nem consegue arruiná-lo. Até mesmo Peter Dinklage, que pela fama de Game of Thrones era um outro motivo para conferir o filme, faz o básico. Bem feito, mas o básico. É como se fossem os humanos de desenhos animados em que os protagonistas são bichos ou máquinas, estão lá para ter a história. A diferença é que são atores reais. Temos uma participação afetiva de Dan Aykroyd para lembrar ainda mais dos anos 80 (aliás, tem gente dizendo que o filme é um Caça-Fantasmas versão game). O diretor é Chris Columbus, muito experiente em filmes infantis e adolescentes, como os dois primeiros Harry Potter, Uma noite de aventuras e Esqueceram de mim, e roteirista de filmes como Os Goonies e Gremlins. Ou seja, um bom nome para trazer um filme de homenagem aos anos 80. Mesmo assim, na minha opinião, ficou faltando mais ação. Mais confronto homens x games. Já que devemos ignorar o roteiro e ficar apenas na diversão, as batalhas poderiam ter sido ainda mais exploradas.

Resumindo: trata-se de um filme infantil feito para adultos nostálgicos. Definitivamente, os protagonistas do filme são os jogos. O público-alvo vai assistir o filme mais para ver como ficou a versão 3D dos personagens. Lembra dos jogos? Gostava? Acha legal relembrar os bons tempos de infância ou adolescência em que você perdia metade do seu salário (ou do seu pai) em fichas que acabavam em 10 minutos? Se sua resposta foi sim, a chance de você se divertir é boa. Se a resposta for não, existe a chance de você achar legal, já que a computação gráfica está muito bem feita, o 3D está legal (incrível eu dizer isso), algumas piadas são para o público mais recente e outras são atemporais, mas é como gostar de uma música em inglês sem saber inglês. Você acha bom curtir a voz e o ritmo, mas não sabe do que a música está falando.

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