Eu gosto de organizar as minhas férias com pelo menos uns 3 meses de antecedência. Já estava tudo pronto para ir com minha família a Blumenau - SC esse ano. Passagens compradas, hotel reservado, roteiro traçado, tudo certo. Então, estava eu de boas apenas aguardando o início das férias chegarem, quando, faltando algumas semanas para a viagem, aparece uma notícia divulgando o 43º Festival de Cinema de Gramado. Antes de bater o desespero, olho no mapa e no calendário! Dava para fazer um remanejamento de datas e passar um final de semana em Gramado, exatamente no final de semana de abertura do festival. Após algumas ligações, cálculos, convencimento da família, aluguel de um carro e aproximadamente 5 horas e meia dirigindo, cheguei em Gramado dia 07/08, a poucas horas da abertura.
Antes disso, ao decidirmos que íamos fazer esse desvio estratégico, conversei com o Matheus, do Set de Cinema: "Chefe, e se tentássemos um credenciamento do Set de Cinema no Festival?", "Não custa tentar, né?". O período de credenciamento ainda estava em aberto. Resolvemos tentar, já que o máximo que ia acontecer era um não. E não é que deu certo? Então, assim que cheguei na cidade, fui deixar as malas no hotel e depois direto para o prédio da Sociedade Gramadense fazer meu credenciamento. Não sou jornalista nem faço cobertura para emissoras de tv, então não tivemos credenciamento VIP, e nem precisava. Já tinha comprado meus ingressos pelo site com antecedência e o que eu queria mesmo era poder saber como é a área de imprensa e chegar mais perto dos convidados. E deu tudo certo! Nos próximos parágrafos, vou contar algumas coisas básicas sobre o festival para vocês terem uma ideia de como é participar de um evento como esse.
Se você decidir ir nos próximos festivais, compre seus ingressos com muita antecedência pelo site oficial do evento (www.festivaldegramado.net), porque eles costumam esgotar muito rápido. A venda inicia algumas semanas antes do festival, que ocorre sempre na primeira quinzena de Agosto. Mas aí temos o primeiro problema. A programação completa só sai faltando poucos dias para a abertura. Então você acaba comprando os ingressos no escuro, sem saber que filme vai assistir. No meu caso, só tinha um final de semana livre, então não tinha muita opção mesmo. Mas pra quem vai poder ficar mais tempo, e não tem condições de comprar os ingressos para todos os dias (esse ano os ingressos custaram R$ 30,00 inteira/dia), fica complicado para selecionar o que quer ver.
O palácio dos festivais é muito bonito. Mas, para quem não conhece, tem uma noção meio mística da coisa. É uma sala de cinema. Muito bonita, cadeiras confortáveis, tela excelente e som de primeira. Mas é apenas uma sala, com a diferença de ter um palco na frente da tela para receber os convidados e para as premiações e um belo hall de entrada com uma estátua do Kikito, bilheteria, bombonière e banheiros. Contando o térreo e o mezanino, são 950 lugares.
Vamos ao segundo problema. Muita gente acha que os ingressos são numerados. Não são. O número que vem no ingresso é apenas um controle da quantidade de pessoas. Se você quer um bom lugar, chegue cedo. Mas segue outro aviso importante: somente as últimas fileiras e parte do mezanino (que fica ao fundo da sala) são destinadas ao público que comprou o ingresso. Quase toda a sala é reservada para autoridades, convidados e imprensa. Então os 950 lugares se tornam mais ou menos uns 200. Por isso eles se esgotam tão rápido.
Vamos ao segundo problema. Muita gente acha que os ingressos são numerados. Não são. O número que vem no ingresso é apenas um controle da quantidade de pessoas. Se você quer um bom lugar, chegue cedo. Mas segue outro aviso importante: somente as últimas fileiras e parte do mezanino (que fica ao fundo da sala) são destinadas ao público que comprou o ingresso. Quase toda a sala é reservada para autoridades, convidados e imprensa. Então os 950 lugares se tornam mais ou menos uns 200. Por isso eles se esgotam tão rápido.
Se hospede, se possível, no centro de Gramado. Aí tudo fica perto. Dependendo do hotel ou pousada que você estiver, talvez até você consiga ir a pé até a rua coberta na ida. Na volta, se estiver fazendo o frio típico da região, provavelmente vai ter que apelar para um táxi. Aqui cabe mais umas dicas. Se você ficar para assistir a programação do dia até o final, ainda mais se tiver alguma homenagem ou premiação, tudo deve terminar entre 0:30h e 1:00h. E nesse horário é bem difícil de achar um táxi. Se estiver frio (quando fui a Gramado pela primeira vez, em 2013, estava 2º C. Esse ano estava tranquilo), reze para não congelar enquanto espera um táxi. Se você estiver de carro, você vai ter que chegar bem cedo, porque vaga para estacionar em Gramado é bem difícil. Existe a Zona Azul, que é válida até 18:30h, mas mesmo assim é muito difícil achar vaga. Também existem alguns estacionamentos pagos próximos ao palácio, que custam em torno de R$ 20,00.
Falando em horário, mais umas coisas importantes. Por mais que Gramado seja uma cidade que orgulha de ser padrão européia, colonizada por alemães e italianos, e do festival ser internacional (na verdade, latino-americano), estamos no Brasil. E por aqui, infelizmente não se costuma respeitar horários. No início achei que o atraso podia ser por conta de algum convidado ou autoridade, mas depois constatei: nenhuma sessão, em nenhum dia, começou no horário. Sessões marcadas para 19:00hs geralmente começavam 19:40hs. Mas se quiser pegar um lugar razoável (e ver os artistas chegando), você acaba tendo que chegar cedo mesmo. Leve um celular carregado ou um livro. Aí, ou você precisa jantar muito cedo, ou vai ter que se contentar com a pipoca, ou ser explorado no jantar. Quase todos os restaurantes próximos fecham às 22:00hs - bem antes do término da segunda parte da programação. Você até tem a opção de jantar nos restaurantes que ficam na "marginal" do tapete vermelho, que ficam abertos até altas horas. Mas essa visão privilegiada terá um preço bem salgado. Em 2013, lembro de ter comido uma ótima sopa no pão em um destes restaurantes por vinte e poucos Reais, e queria repetir o prato esse ano. Mas ao chegar no mesmo restaurante, fui informado que, para se sentar e pedir qualquer coisa, tinha que pagar uma taxa de consumação mínima de R$100,00 por pessoa. E isso levando-se em consideração que nesse horário ninguém mais ia passar pelo tapete vermelho. Brasil, terra de exploradores!
Sobre o festival em si, vale muito a pena. Não são todos os filmes que entrarão em circuito comercial. Ainda mais para a região Nordeste. Muitos também não conseguem ser lançados em DVD. Então, às vezes, pode ser sua única chance de conferir o filme. Curta-metragem, então, nem se fala. Será que seria tão caro assim com questões de direitos para fazer um DVD com os curtas do festival? Tem alguns brilhantes!
O festival funciona assim: durante 10 dias são exibidos filmes em 4 mostras competitivas, que são de curtas brasileiros, curtas gaúchos, longas latinos e longas brasileiros. (Quase) todos os dias são exibidos dois filmes, precedidos por curtas brasileiros. A mostra gaúcha acontece durante as tardes no primeiro final de semana do evento. Antes de cada filme, a produção e elenco é chamada ao palco para falar um pouco sobre o longa. Os mestres de cerimônia foram Leonardo Machado e Renata Boldrini. O último sábado é dedicado exclusivamente para a premiação, onde os ganhadores recebem os kikitos.
Esse ano, 7 longas estão na disputa de filmes brasileiros e 7 longas de filmes latinos. Os filmes nacionais são: Que horas ela volta?, Introdução à música do sangue, O fim e os meios, O último cine drive-in, Ausência, O outro lado do paraíso, Ponto Zero e Um homem só. Os curadores do festival são a produtora Eva Piwowarski, o jornalista Marcos Santiago e o especialista em cinema Rubens Ewald Filho.
Que horas ela volta? foi excluído de última hora da competição em razão de conflitos de datas de pré-estreias, mas foi exibido na abertura do festival para não prejudicar a programação e frustrar o público que já tinha adquirido o ingresso para ver o filme. Foi precedido de um ótimo curta, chamado Bá. Regina Casé não apareceu, mas as excelentes atrizes Karine Teles e Camila Márdila prestigiaram o evento.
O longa nacional do sábado, Introdução à música do sangue, contou com a presença de parte do elenco. A Bete Mendes chegou entre outros atores do filme, se sentou bem no meio da fileira e por lá ficou. Para bom entendedor...só tirei foto de longe. Me arrependi muito de não ter pedido pra tirar uma foto com a Greta Antoine. Fica para uma próxima oportunidade.
Se você não puder ou não tiver como ir todos os dias, dê preferência a pelo menos um dia de homenagem. É muito legal! Sempre fazem um vídeo para o homenageado com cenas de sua carreira e/ou depoimentos, e depois o homenageado discursa durante alguns minutos ao receber o prêmio. Esse ano, os homenageados foram a atriz Marília Pera (troféu Oscarito), o diretor Zelito Viana (troféu Eduardo Abelin), o cineasta Fernando Solanas (Kikito de Cristal) e o ator e diretor Daniel Filho (troféu Cidade de Gramado). Ele é muito simpático. Acenou para o público, sempre sorrindo, fez um discurso muito legal, bem gente boa mesmo. Até consegui uma foto com ele.
Uma coisa boa de ir nas sessões com homenagens, mesmo que se tornem um pouco mais longas, é que nesses dias você tem a certeza que o homenageado vai estar lá. Porque não há nenhuma garantia que um ator protagonista do filme que você vai assistir estará no evento. Nas sessões que assisti, por exemplo, Regina Casé e Ney Latorraca não compareceram. Mas sempre terá gente do elenco e produção lá nos dias de suas exibições, só não tem como saber quem realmente vai. Geralmente os diretores comparecem, até porque antes de cada sessão eles sobem ao palco para falar um pouco do filme e fazer os agradecimentos aos patrocinadores ($$$), elenco e família.
Sabe quem também não compareceu a Gramado esse ano? O Frio!!! Estava um clima estranhamente agradável durante esse final de semana. E eu que levei um monte de casacos... Teve um dia que fez 30º. Mas a parte boa é que o dia fica bem legal para aproveitar os passeios e tirar fotos. Não vou falar dos passeios da programação paralela aqui, porque senão não vai ser um texto, mas um livro. Gramado tem praticamente uma centena de opções pra todos os gostos e de todos os preços (tem muita coisa gratuita). E se for estender para as cidades vizinhas das Serras Gaúchas, como Canela, Nova Petrópolis e Bento Gonçalves, aí as opções triplicam. Isso sem falar das opções gastronômicas (prepare o bolso!). Se quiserem alguma dica de lá, é só entrar em contato comigo.
Ir ao festival não é só assistir filmes. É uma experiência. Passar pelo tapete vermelho, estar perto de atores, diretores, produtores, ver e ouvir sobre cinema, acompanhar as homenagens, prestigiar o cinema nacional. Vale muito a pena. Se tiver oportunidade, se programa e vá para os próximos festivais de Gramado. Quem sabe a gente não se encontra por lá?
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