Vitor (Mateus Solano) é um jovem juiz federal recém-chegado na cidade de Fronteira, disposto a desmontar um esquema de contrabando e tráfico de drogas na região. Para prender Gomez (Chico Diaz), ele vai contar com a ajuda da procuradora Alice (Paolla Oliveira) e da equipe do policial federal Elton (Eduardo Galvão). Dirigido por Sergio Rezende ("Salve Geral").
A corrupção no Brasil é praticamente um símbolo nacional. Claro que não é nenhum motivo de orgulho, mas é algo que, infelizmente, faz parte da cultura do País, desde a época em que os nossos colonizadores trocavam ricas especiarias dos índios por brincos e espelhos... A diferença é que hoje a globalização, a mídia e as redes sociais fizeram com que toda essa roubalheira sirva de assunto em salas de aula, programas de tv, reuniões de família e até mesmo nas clássicas mesas de bar. E quando o assunto passa a se tornar mais importante do que futebol, novelas e capas de revistas, significa que o brasileiro chegou no limite do aceitável (limite este, por sinal, que deveria ser 0%).
Poucas vezes se viu um Brasil tão politizado, acompanhando sessões da câmara e senado e decisões judiciais. Mas, ainda assim, temos um País dividido em lados opostos. Polêmicas à parte (já que esta é apenas a introdução ao contexto do longa), em tempos em que vemos a guerra pelo poder paralisar o Estado, um juiz federal assumir status de herói nacional, a ponto de figurar em listas de personalidades mais importantes ou influentes mundiais do ano, e que milhões de pessoas vão às ruas clamando por justiça, não haveria momento menos propício para lançar um filme que aborda exatamente este cenário.
Poucas vezes se viu um Brasil tão politizado, acompanhando sessões da câmara e senado e decisões judiciais. Mas, ainda assim, temos um País dividido em lados opostos. Polêmicas à parte (já que esta é apenas a introdução ao contexto do longa), em tempos em que vemos a guerra pelo poder paralisar o Estado, um juiz federal assumir status de herói nacional, a ponto de figurar em listas de personalidades mais importantes ou influentes mundiais do ano, e que milhões de pessoas vão às ruas clamando por justiça, não haveria momento menos propício para lançar um filme que aborda exatamente este cenário.
Baseado em uma história real (alterando nomes, mas nos créditos é possível saber que o personagem principal Vitor foi inspirado no juiz federal Odilon de Oliveira, o qual possui a fama de ser o terror dos traficantes), o longa exprime a ideia que este desejo por um Brasil menos corrupto pode ser algo tangível e menos utópico, embora seja um processo complexo, difícil e perigoso. Para isso, usa a figura de um juiz federal, uma procuradora e um investigador da polícia federal como paladinos da lei e da justiça, e do lado dos vilões, um chefão de uma quadrilha que controla o tráfico de drogas e contrabando na fronteira Brasil/Paraguai, que possui como aliados policiais, políticos e autoridades.
O filme retrata de maneira bastante fiel e realista a nossa realidade quanto aos crimes de tráfico e corrupção, abordando o luxo e riqueza dos chefes dos negócios, os contratos e armações envolvendo empresas públicas e privadas, a conivência das autoridades, o envolvimento de políticos, a burocracia que atrapalha as investigações, os policiais comprados, os jatinhos que transportam drogas, ou seja, nada que você já não tenha visto em jornais, revistas e programas policiais. A diferença é que nestas mídias você já está acostumado a ler desgraça, enquanto o cinema ainda é associado a entretenimento. Fica a critério de cada um decidir se é um filme oportunista, pegando carona no momento político atual, ou oportuno, sendo um canal de informação a mais para fazer a população pensar a respeito disso tudo. Algo que Tropa de Elite conseguiu fazer com êxito há quase 10 anos. Particularmente, fico com a segunda opção.
Quanto ao elenco, os personagens principais atuam bem. Mateus Solano e Paolla Oliveira são dois dos atores mais carismáticos e prestigiados de suas gerações, não sem motivo. Chico Dias é quem entrega a melhor atuação com El Hombre, usando toda a sua experiência e talento para montar um personagem que foge do estereótipo e caricatura de vilões de história em quadrinhos. E fique de olho em Gustavo Nader, cujo personagem Zezé tinha toda cara de ser um mero e simples coadjuvante, mas rouba a atenção em todas as cenas em que está presente.
Apesar do bom elenco, temos atores e personagens fracos ou desperdiçados (Juliana Lohmann, por exemplo, tem talento para merecer mais destaque), algumas cenas estranhas ou sem sentido e algumas licenças poéticas forçadas, entre outras coisas. São falhas que muito filme grande tem, mas como é cinema nacional tem gente que adora reclamar. A mensagem principal do filme é entregue ao espectador de forma muito clara e objetiva, algo que o diretor sabe fazer muito bem. Quanto ao seu formato, se já não foi filmado pensando nisso, e até mesmo pelo seu tempo de duração de 150 minutos, penso que o filme se encaixaria bem como uma micro-série dividida em 4 ou 5 capítulos para serem exibidos após a novela das 21:00h (seguindo a tendência dos últimos filmes globais, provavelmente isto acontecerá em breve).
É um filme que deve ser assistido para reflexão. Ainda que um pouco romanceada ou adaptada, soube contar sua história de forma digna. É mais uma oportunidade para o brasileiro saber que ainda tem gente que combate o crime fazendo um pouco mais do que reclamar em redes sociais e que todo o clima que o país está vivendo não pode se resumir a guerra de egos ou de partidos. De tempos em tempos o Brasil acorda e dá uma virada na História. Repetindo mais uma vez, licenças poéticas à parte, são de exemplos assim que estamos precisando.
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